Ele caiu no Jornalismo de paraquedas. Depois desistir das carreiras de advogado e economista, foi convidado para ser redator de uma coluna social. Desde então, não saiu mais das Redações: foi repórter, diagramador, redator, chefe de reportagem, editor e colunista. Trabalhou em veículos como Última Hora, Gazeta Mercantil, O Globo, Quatro Rodas, Realidade, Playboy e Jornal dos Sports. Professor de Jornalismo da UniCarioca e apresentador do programa "Cara e Coroa", da TV Brasil, Milton Coelho da Graça é casado, pai de quatro filhos e avô de cinco netos. Confira a entrevista com o jornalista:
Milton, fale um pouco sobre a sua infância.
Eu nasci no dia 30 de novembro de 1929, em um cortiço, no centro do Rio. Meus pais morreram de tuberculoso antes dos meus quatro anos, e aí fui adotado por um casal de portugueses. Mas só fui registrado aos doze, quando ingressei no ensino médio.
Você aprontava muito na adolescência?
Minha mãe adotiva não me entendia muito bem, até que um dia ela quis me proibir de namorar uma menina que eu estava “ficando”. Por isso, aos dezesseis anos resolvi fugir de casa. Então decidi me alistar como voluntário da Aeronáutica. Depois morei um dois meses na rua, até que a mãe de um amigo me acolheu.
E como fazia para se sustentar?
Passei por 28 ocupações diferentes. Fui vendedor de roupa, soldado do Exército, auxiliar de cozinha etc. Essa diversidade de profissões me ensinou que a vida não é fácil, mas que, apesar disso, a gente sempre deve acreditar que um dia as coisas darão certo.
Antes de ser jornalista você pensou em ter alguma outra profissão?
Olha, meu amigo, na juventude eu quis ser microbiologista, engenheiro naval, taquígrafo da Câmara, diplomata brasileiro, oficial da força aérea e várias outras coisas que eu não consegui ser. Eu precisava trabalhar, mas também queria estudar. Então, aos 23 anos, decidi prestar vestibular para tudo que eu podia: Teatro, História, Direito e Economia. Fui fazer os quatro cursos para ver qual bicho dava.
E qual bicho deu?
Bem... (risos) O curso de História eu desisti logo no primeiro semestre. O de Teatro também. Cheguei até a fundar o Centro Acadêmico, mas os professores não aceitaram a minha agitação dentro da faculdade, e eu desisti do curso. Preferi ficar só com Direito e Economia. Aos trancos e barrancos eu consegui me formar. Na reta final do curso de Economia, entrei como estagiário na General Eletric e, certo dia, fui participar de uma manifestação da União dos Estudantes (UNE), no Centro da cidade, e acabei sendo preso. No outro dia a minha foto estava nas capas dos jornais e a empresa me demitiu. Já como advogado, consegui livrar os meus primeiros clientes da cadeia. Eram comerciantes que colocavam água no leite, mas eles não pagaram meus honorários. Foi aí que percebi que eu não queria ser advogado, nem economista. Depois, aos 28 anos, fui convidado pelo Maurício Azêdo, atual presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), para ser redator da coluna social do Diário Carioca. Não quis mais sair de uma Redação.
Qual foi a sua maior experiência como estudante, além de ter aprendido a fazer tanta coisa ao mesmo tempo?
Em 1957, quando participei do trote mais engraçado – e sadio – da história. Na época, isso saiu em todos os jornais… Foi lá na Faculdade Nacional de Direito, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O evento contou com cavalos brancos, um aluno vestido de Tarzan sobre um elefante. Outra vez, colocamos os mais modernos carros e motonetas da época nas ruas do Rio, um canhão antiaéreo e fomos dar um calote coletivo em um extinto bar de Copacabana. Neste dia conseguimos soltar uns colegas que haviam sido presos. Foi hilário, apesar de ter sido uma besteira e tanto! Mas a Universidade deve ser comemorada, é uma passagem bastante importante para o aluno. O problema é que hoje ela serve como “point”, e não como um lugar para se aprender.
E hoje, aos 78 anos, como é o contato com os jovens dentro da sala de aula?
Sempre converso muito com eles. Vejo que a garotada até quer, mas não sabe o que fazer. Estão sem direção, como toda a sociedade. A maioria não se preocupa com assuntos que dizem mais a respeito a eles, que estão começando na carreira, do que a mim. Digo que eles precisam ser curiosos, saber mais sobre a língua portuguesa e ler, ler bastante para adquirirem um conhecimento geral mais amplo. Falta se perguntar: o que eu estou fazendo aqui?
Milton, qual seria a diferença dos jovens de 1968 para os de hoje?
A diferença é que os jovens daquela geração sabiam o que estavam fazendo. O pessoal lia mais. Hoje em dia a juventude está tomada por essa onda de “celebridades”, não lê. Os jovens precisam saber contra o quê devem lutar e como. Mas, para isso, precisam adquirir conhecimento, precisam ler.
Algum filho ou neto optou pelo Jornalismo?
Até agora, não. Acho que foi pela distância que tiveram de mim enquanto estive preso pela Ditadura Militar e também pela minha ausência devido a minha carreira. Eu trabalhei muito…
Se por um lado o Jornalismo lhe tirou algumas coisas, como um maior convívio com seus filhos, o que ele lhe trouxe de bom?
Ah, ele trouxe mais coisas boas do que ruins. Deu-me perspectiva de vida, abriu meus horizontes, capacidade de fazer um pouco mais pela sociedade, de sair do país, de aprender alguma coisa todos os dias. Eu leio mais de quatro horas por dia, leio até jornal [on-line] da China, do Iran. O Jornalismo me deu essa “secura” pelo saber.
E com essa agenda tão cheia, ainda falta fazer alguma coisa?
Ah, falta! Eu ainda não fiz nada, quero fazer muitas coisas na vida. Depois ter me casado três vezes, ter sido candidato a vice-prefeito do Rio, secretário de Comunicação no Governo César Maia, vendedor de náilon e outras coisas, ainda tenho muitas coisas para fazer (risos).
Com qual frequência você vai ao seu sítio em Miguel Pereira, no interior do Rio?
Raramente… Não tenho como ficar um dia sequer sem Internet banda larga. Lá, a minha conexão é muito ruim. Há cinco anos eu nem imaginava o que era banda larga, e hoje em dia dependo bastante dela.
Você é bem integrado com a Internet, com a tecnologia…
Todos nós precisamos ser. O mundo está se transformando, as coisas estão mudando, a gente não pode ficar para trás. Assim como o Jornalismo, a gente tem que se transformar sempre, mas sempre sendo a mesma pessoa. Ou seja, você é e não é a mesma pessoa de sempre. Você não pode perder a essência, mas sempre tem que melhorar um pouco mais. Não adianta ser conservador, tudo evolui, inclusive a gente.
Você tem alguma mania?
Tenho o hábito de ler livros no metrô. Quando eu termino a leitura, deixo o livro com um bilhete: “Oi, amigo. Estou deixando esse presentinho para você. Faça o mesmo, depois de ler, deixe-o para alguém”. Aprendi a fazer isso em Nova York.
Brasil: que país é esse?
Esse é o país do cacete! Um País lindo, criativo, com uma diversidade imensa de raças… Apesar de todos os seus problemas ele é o país do futuro. Só falta as pessoas terem consciência disso.
Milton, quais seriam as últimas palavras de sua vida?
A mudança é a vida. Essa frase é do ex-presidente dos EUA, John Kennedy. Ela resume qualquer coisa que eu diga para você.
Entrevista realizada em setembro de 2008
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