sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sobre a empatia

Eu me lembro perfeitamente do dia em que aprendi o significado original da palavra empatia. Foi há mais ou menos dez anos, durante uma aula de Filosofia da inesquecível professora Lenora. Até então, eu a usava apenas da forma mais popular, como sinônimo de simpatia – o que dá ao termo apenas a ideia de sentimento. Já o outro sentindo de empatia requer atitude: compreender as pessoas se colocando no lugar delas.

Tal assunto entrou no plano de aula de Lenora devido às constantes piadas da turma com um aluno homossexual. Wagner, que tinha o codinome de Keila, nunca chegou a ser maltratado por nós (pelo menos era isso que a gente achava). Eu era o responsável por quase todas as músicas que eram cantadas em sua “homenagem” pelos enormes corredores da escola. Ele até parecia gostar, mas Lenora nos mostrou que, na verdade, Wagner sorria pra não chorar.

Quem nos dera que a empatia fosse um dom, um jeito de ser ou uma mera habilidade. Ela é como uma pedra no sapato. Conflita com o nosso ego e o soberano “eu”. Ser empático consiste em se abandonar por um momento em busca de uma transposição quase espiritual, na qual é possível vivenciar um pouco do que se passa dentro de outro indivíduo. Difícil tarefa para nós, pobres mortais, não? Nem tanto. É só uma questão de vontade e prática.

Mas se engana quem pensa que esse comportamento beneficia apenas o outro. Embora a compreensão ajude a diminuir o peso de dores e arrependimentos alheios, ela também é o caminho para o autoconhecimento (embora muita gente acredite que esse processo se dá apenas em momentos de terapia, isolamento e meditação). Por outro lado, praticar a empatia não é um nenhum ato de redenção de pecados. É apenas um jeito melhor de se viver.

Ser empático é a oportunidade que temos de não vivermos em um mundinho irreal, que só existe pra gente. É não ter que passar horas dentro de um ônibus sem ar-condicionado para imaginar como a vida pode ser dura. É não esperar perder um filho vitimado pela violência para se envolver em causas efetivas a favor da paz. É não ter a sorte de ganhar na loteria para saber que, apesar de tanta miséria, ninguém tem culpa por ter nascido rico. É não precisar ser julgado ou discriminado para aprender que não custa nada tentar entender o próximo.

2 comentários:

  1. Puxa, eu não me lembrava deste episódio sobre a palavra sendo debatida, mas me lembro dos momentos em que precisamos ser empáticos e não fomos sim...
    Caramba, muita coisa boa aprendemos com a Lenora e em todo aquele tempo ...
    É verdade Rafael, ser empático é algo que muitos de nós não somos nem procuramos ser.
    Ótimo texto, ótima recordação!!!!

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  2. Valeu, Lu! Eu sinto muitas saudades da Lenora. Já fui à escola onde ela estava como diretora, peguei alguns números de telefone, mas não consegui. Queria muito agradecê-la pessoalmente por tudo.

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