A imagem ao lado é de um trecho do livro “Doidas e Santas”, de Martha Medeiros, e está sendo compartilhada por milhares de pessoas no Facebook – onde textos de escritores consagrados e frases de efeito garantem facilmente alguns “curtir”. As palavras da jornalista, assim como outras postadas na rede social, inspiram as pessoas justamente por sugerirem um estilo de vida ideal e incomum à maioria. Até aí nenhum problema. Mas, será que realmente somos ou queremos ser pessoas mais interessantes, conscientes, íntegras, tolerantes etc.? Eis a questão.
Não se trata de uma busca pela perfeição. Até porque tais características não anulam a contrariedade humana ou quaisquer outras coisas que venham a ser chamadas de defeitos. Tal indagação se refere ao equilíbrio entre teoria e prática, à reflexão em torno da nossa real capacidade de estabelecer e alcançar objetivos e a uma autocrítica quanto ao que vivemos, aprendemos, dizemos, sonhamos, mostramos e até mesmo ao que preservamos ou escondemos.
A falta de critério e avaliação quanto ao que se lê ou compartilha, obviamente, não é um problema exclusivo da internet. Mas o enorme volume de conteúdo disponível no ambiente online parece reforçar essa despreocupação. Afinal, enquanto não assistir ao vídeo do momento é tido como alienação, vê-lo e compartilhá-lo acompanhando de um HAHAHAHA pode lhe dar o crédito de “antenado”. Uma paródia sobre ele, inclusive, pode resultar em milhares de curtidas (ouro de tolo moderno) em poucos minutos. Tudo muito rápido, como tem que ser atualmente.
E assim corremos o risco de pertencermos a uma geração que forma a sua personalidade numa linha do tempo virtual; uma geração que questiona tudo e todos, menos a si própria; uma geração iludida e satisfeita com o “meme nosso de cada dia”; uma geração entorpecida pelo ópio da imagem; uma geração que prega amor, coragem, felicidade, ousadia, liberdade, ativismo, amizade, fé, união e realização de forma banalizada, sem arcar com o ônus inerente a cada uma dessas atitudes e conquistas; uma geração viciada na facilidade, que acredita ter o mundo em suas mãos com a ajuda do deus Google; uma geração que nasce famosa e sonha com seus 15 minutos de indignação; uma geração que parece, mas não é.
Quem fotografou o trecho do livro de Martha Medeiros deve pertencer a essa geração. Um típico amante da leitura "facebuqueano" que, ávido por tocar o coração de suas centenas de amigos, interrompeu seu grato momento para circular parte do texto com uma caneta esferográfica azul – algo que, aos olhos de quem aprecia verdadeiramente os livros, é quase uma agressão. As linhas finais deste artigo me remeteram a minha avó, Dona Regina. Ela, que não frequentou muito a escola, foi à praia pela primeira vez aos 84 anos, trabalhou durante quase toda sua vida como dona de casa, sempre gostou de novela e não tem perfil nas redes sociais, é uma pessoa interessante, lúcida e com muitas histórias para contar sobre a vida. Mas minha avó é de outra geração... Aquela que é o que é, e ponto final.
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