sábado, 31 de julho de 2010

Lalá, Cissa e a vida

Na última quinta-feira (29/7), recebi o e-mail de uma mãe que, assim como Cissa Guimarães, teve um filho vitimado pelo trânsito carioca. A diferença entre Maria Laura Guimarães, mãe de Pedro, e a atriz, que perdeu recentemente seu caçula Rafael, é que uma ainda vê o filho lutando pela vida ao seu lado.

Abaixo, reproduzo - com a devida autorização de Lalá (como é carinhosamente chamada) - sua emocionada mensagem sobre a recuperação de seu único filho. Antes de ler, veja o vídeo que os amigos de Pedro fizeram em sua homenagem:



"Tive muita dificuldade pra começar este novo e-mail, informando sobre a VIDA DO PEDRO, 3 anos após o fatídico atropelamento e ainda reforçando mais uma vez esta corrente de orações e solidariedade para a 19ª cirurgia do Pedro (8ª no cérebro) a se realizar no Hospital Copa Dor, dia 31 de julho de 2010, sábado às 8h, para a reconstrução do crânio.

Ao longo desses anos vocês puderam acompanhar meus e-mails algumas vezes com o coração dilacerado de dor, outras vezes cheio de esperança e dividindo conquistas, porém sempre otimista de que dias melhores chegariam. E de fato chegaram, nada perto do que eu esperava, nem passar por um processo de reabilitação tão longo, mas basta olhar para trás, ou para a dor ao lado e reforçar que fomos ABENÇOADOS. Fomos escolhidos por Deus para algum fim. E ao mesmo tempo que notícias como o atropelamento do menino Rafael nos fazem sofrer o luto de todos, também nos resgatam a idéia de que fomos protegidos de uma dor maior, para mostrar que existe superação, resignação, força e Fé em nossas vidas.

Porém em função dos recentes acontecimentos narrados na mídia com relação ao filho da atriz Cissa Guimarães, que quem a conhece diz ser uma mãe dedicada e leoa, como algumas que a gente conhece, justamente na data que meu filho completava 3 anos de uma nova vida, renascendo de tantas quase mortes, fiquei ainda muito abalada como se tudo voltasse no tempo numa fração de segundos, e numa estranha sensação num mesmo momento, voltei a sentir a dor do medo da perda, a dor efetivamente da perda de um filho são para receber um “outro filho” diferente de antes, em raciocínio, em motricidade, mas com o mesmo ciração generoso como sempre foi e que luta para sua reabilitação, e os ganhos que tivemos, as vitórias, mas triste em saber que ela (Cissa) não poderá dar mais abraço, mais um beijo, dizer mais uma vez o quanto filhos são importantes para nós: mães.

Tudo isso fez renascer em mim um enorme sentimento de dor, de impunidade, quantas vitimas ainda terão que passar por isso para que haja uma consciência? Quantas mães vão viver essa dor? Na ultima consulta do Pedro no clínico para fazer o risco cirúrgico nos emocionamos quando ele falou que meses depois do Pedro ter “vencido” a morte, ainda deitado na cama e imóvel sem poder mexer nenhum membro ele, o médico, chegou a questionar se tinha valido a pena, o que seria dele, um vegetal? O que seria “desta mãe” que tanto brigou pela sua vida? Pedro quando começou a reaprender a falar agradeceu ao médico como uma das primeiras palavras que conseguimos na época entender com fluência verbal: “OBRIGADO DR MAX!” A resposta está aí.

Obrigada a Deus, aos médicos e ao apoio de todos que nunca deixaram de seguir junto conosco este caminho. E assim mais uma vez agradeci pela vida, mesmo de muita luta e ainda com limitações, do meu filho Pedro que está vivo e em permanente evolução! Não exatamente o filho que eu tinha, nada será como antes...

Como diz minha irmã, toda nossa energia nos primeiros dias estava focada na Fé e na luta pela sobrevivência do Pedro, e talvez posamos ter nos negligenciado na busca do “culpado”. Mas Pedro sofreu tanto, o caso recebeu enorme repercussão pelas redes de relacionamento, jornais e TV na época, além dos e-mails divulgando a longa caminhada com seus diversos obstáculos, que cabe a quem fez dormir com um “barulho desses” e que infelizmente não foi suficiente para que casos como esses deixassem de acontecer.

Cada vez mais eu tenho certeza de que foi um milagre ele resistir àquela cirurgia no Miguel Couto, com pressão zero, sem vascularização, tomava sangue e este saia pelas veias das pernas, quase amputou as pernas, retirar parte do crânio para tirar a pressão o cérebro, os ossos da face fraturados... E muito mais. Foram 11 ou 12 h de cirurgia, em estado de choque e meu filho iluminado resistiu. E já durante todo o tempo de internação no Copa Dor, 11 meses dos quais quase 8 meses em coma, ainda superar inúmeras “intercorrências”, vencer hemorragias, vencer infecções, novos edemas no cérebro, cirurgias de reconstrução em diversas partes do corpo, enxertos, paradas cardiorrespiratórias etc.

Agora vamos para 19ª cirurgia muita coisa vivida, superada, muita dor, muita resignação, luta e principalmente muitas conquistas. Pedro, mesmo com muitas sequelas ainda, consegue andar (precisando de alguém por perto o tempo todo ainda, por conta de uma necrose que pela dor às vezes faz ele perder o equilíbrio. Esta necrose na cabeça do fêmur foi causada pelos meses que ficou sem se mexer tetraplégico até descobrirmos que a hidrocefalia gerava uma pressão intracraniana no desenvolvimento da parte motora quando ele teve que colocar a válvula dentro do cérebro, associado ao excesso de corticóide dos meses de hospital = mal necessário...).


Pedro consegue falar, raciocinar, e melhora a memória a cada dia. Nada é como antes, mas os progressos existem e são significativos contra qualquer estatística ou previsão da medicina. Acredito que é uma questão de tempo, longo tempo, diferente do que eu previa, mas Pedro voltará a ser uma pessoa independente e produtiva.

Dia 31/07, data reservada pelo cirurgião no Copa Dor , é dia de Santo Inácio, Colégio onde ele estudou e vamos a missa aos Domingos. Adorei a coincidência da data.

Foi uma cirurgia eletiva no momento de fazer. Pedro está num excelente momento clínico, em constante desenvolvimento, e reconstruir o cérebro além de proporcionar uma maior harmonia estética poderá lhe dar maior independência e segurança em suas funções cotidianas.

Seguindo com Fé para mais uma vitória, falar que Pedro vai “tirar de letra” não é propriamente a palavra exata, pois qualquer coisa que envolva o cérebro é muito delicado, embora Pedro tenha vencido cirurgias em estado muito mais debilitado. E a motivação e desejo que ele está de superar mais esta etapa, contando ainda mais uma vez com a parceria de cirurgiões que acompanharam o caso desde o início (Neurocirurgião Dr. Ruy Monteiro, cirurgião crânio maxilo facial Professor Dr. Ricardo Cruz, clínico e cardiologista Dr. Max Andrade, neurologista Dr. Gabriel de Feitas) todos excelentes em suas especialidades nos dá a certeza de mais um ciclo com final feliz.


Entregamos nas mãos dos médicos nosso Pedro Guerreiro e nossa dor nas mãos de Deus. E assim tudo dará certo!

“Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá”

Gilberto Gil

Beijos, Lalá"

Um comentário:

  1. Estou emocionado com o desabafo desta mãe "Leoa'. Só uma mãe, amor incondicional, para ter tanta fé.
    Que Deus continue guiando as mãos destes médicos para proporcionar uma maior harmonia estética, uma maior independência e segurança nas funções cotidianas de Pedro.
    Jorge Araújo

    ResponderExcluir