Apesar do costume de dormir tarde, após o início da madrugada, não tenho problemas com o sono. Porém, quando isso acontece, o resultado costuma ser desastroso... A geladeira se torna minha principal vítima (ou seria o contrário?), crio blogs que posteriormente são abandonados ou simplesmente acordo a minha mulher de tanto que me reviro na cama. Eis que ontem a insônia me pegou pra valer. O resultado foi inédito e inusitado: parei no outro lado do mundo.
Ao buscar no Twitter pelo perfil de um famoso portal de notícias, errei o endereço e deparei-me com um cidadão japonês que tinha em sua descrição a seguinte frase: 好きなコンテンツ 小島慶子キラキラ 一話完結タイプの、海外ドラマ。Movido pela curiosidade que é inerente a um jornalista, joguei esses estranhos caracteres no Google Tradutor. Como a tradução não ajudou, precisei navegar por outros perfis até perceber que eu estava entre japoneses.
Os cliques me levaram a Hitoshi Uehara, CEO de uma empresa japonesa do ramo de negócios digitais e mobilidade. Após uma rápida apresentação (feita em nihongo, como é chamado o idioma japonês), começamos a conversar em inglês via Twitter sobre internet, consumo de mídia e mercado de jornais (impresso e on-line).
Confesso que minhas perguntas escondiam a esperança de obter respostas reveladoras. Mas, para minha surpresa, a impressão é que o Japão vive um cenário muito parecido com o que as empresas de mídia brasileiras estão enfrentando - apesar de serem tecnologicamente mais avançados.
Lendo, ou melhor, tentando ler alguns posts em blogs japoneses sobre o assunto, percebi que a abordagem ao tema é bastante diferente da que custamos dar por aqui. Enquanto nosso foco está no volume (audiência), os japoneses utilizam a filosofia para permear as ideias voltadas ao consumo de mídia.
O próprio Uehara comentou em seu blog que é preciso colocar portas por todos os lados no Japão. O intuito é que essa seja a ferramenta do futuro para conhecer pessoas (redes sociais), ou seja, fazendo com que elas circulem e se encontrarem. O executivo também fala sobre o novo O2O (on-line para o off-line), dando ao seu negócio uma causa (missão): unir as pessoas.
Minhas percepções após a conversa que durou até as 4h da manhã:
- No Japão, tanto o Twitter quanto o Facebook ainda são pouco utilizados. Quem reina por lá é o Mixi, principalmente entre os jovens;
- O acesso à internet via mobile é algo já consolidado no país;
- Os jornais impressos já sofrem um “desinteresse” no mercado anunciante – o que é visto pelo jovem japonês como “um início de uma lenta morte”;
- Os sites de notícia japoneses ainda não cobram pelo consumo de seu conteúdo;
- Há uma tímida aproximação entre os jornais impressos e a TV (integração na produção e distribuição de conteúdo);
- A Comunicação no país é dominada por cinco grandes grupos (chamados de “velha mídia”), que chegam a articular golpes contra iniciativas de pequenas empresas (teoria da conspiração?);
- Os tablets são excelentes plataformas para revistas, mas ainda não caíram no gosto popular no que diz respeito aos sites de notícia. O "Nikkei" cobra por conteúdo, mas a iniciativa não se popularizou.
- As empresas já utilizam os recursos de geolocalização como estratégia de marketing, integrando alguns serviços às redes sociais;
Alguns sites japoneses que merecem nossa visita:
http://mixi.jp/ (e-mail e colaboração)
http://ameba.jp/ (blog)
http://www.nikkei.com/ (notícias)
http://markezine.jp/ (tendências)
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