domingo, 16 de outubro de 2011

Era impossível não ser possível

O jovem estava sentado embaixo de um pé-de-jambo. Catava as flores rosadas que caíam da árvore e colocava na boca, sentindo o gosto azedo da futura fruta. Ao olhar para a esquina, viu chegar um circo. Havia uma carreta e alguns carros. Movido pela curiosidade, levantou-se para ver o que havia de diferente. Até então, apenas o colorido do cortejo chamava sua atenção.

Seguindo o som das buzinas, correu por uma rua paralela. Com uma vara, passava pelos jardins fazendo voar pétalas. No outro quarteirão, ficou espiando os integrantes do circo desembarcando em um enorme terreno. De longe, observou uma jaula e um triste olhar. Aconteceu o amor. Não houve sorriso, apenas compreensão. Foram alguns instantes até que uma enorme lona fora jogada sobre a jaula. O jovem se desesperou com a misteriosa canção que ecoava dentro de si.

Foi para casa sem se esquecer daquele olhar. Então, decidiu voltar ao circo, mas não permitiram que entrasse antes do primeiro espetáculo. Rodeou o terreno com os olhos atentos à jaula coberta. Decidiu esperar. Ficou sentado à espera de algum sinal. Sentindo o frio da brisa que chegava, foi para casa ainda com a esperança de rever quem o conquistara apenas com um olhar, de uma maneira mágica.

Tomou banho, perfumou-se e pegou um agasalho. Voltou ao circo, comprou uma pipoca e se sentou. Ela apareceu: linda, esbravejando e encarando os espectadores. Cruzaram olhares. Ela se questionava, pois não queria sentir algo por alguém que lhe parecia impossível. Acabou o espetáculo, e o jovem fingiu ir ao banheiro. Foi ao encontro da leoa “Serena”. Cheiraram-se. Houve um beijo e um convite. Então, fugiram para as matas e se tornaram uma lenda: foram aqueles que, acreditando no impossível, libertaram-se através do amor.






Escrito originalmente em 26/03/07

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