O tempo passou, e o menino cresceu apaixonado pelos curiós. Passava horas e horas embaixo de um cajueiro ouvindo o pássaro cantar. Uma vez ou outra pendurava a gaiola em uma árvore na beira do campo para jogar bola com os amigos. Ficava sempre de olho, com medo de perder seu companheiro. Um dia, o pior aconteceu: um chute fez com que a bola derrubasse a gaiola. De longe o garoto via o curió se debatendo na gaiola. Ao se aproximar, viu o passarinho saindo por uma pequena passagem, chegando rápido aos galhos da árvore.
Foram dias e dias de tristeza até o menino entender que independente do bom tratamento que dava ao companheiro, ele preferia a liberdade. Durante alguns dias, chegou a sonhar com destino do curió. Passava horas à sua espera, mas ele não voltava. Seu pai comprou uma bicicleta para ver se ele esquecia o passáro, mas não adiantava. O menino continuava triste.
O garoto cresceu, casou-se e teve filhos. Certo dia, ao passar em frente a uma barbearia, viu uma gaiola na mão de um idoso. Voltou com o carro e decidiu perguntar ao senhor como ele havia conseguido aquele pássaro. Após conversarem, percebeu que não se tratava do seu melhor amigo, mas resolveu comprá-lo.
Os anos passaram, e o homem já tinha seus cabelos brancos. Até que um dia o curió ficou sozinho, sem entender o motivo pelo qual naquela manhã tão bonita, seu amigo não havia aparecido para tomar sol e bater papo. O curió ainda não sabia que o homem estava vivendo uma nova vida, sentindo o que ele só sentiria se estivesse fora daquela gaiola.
Escrito originalmente em 13 de julho de 2007
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